Neste post convidamos você a acompanhar o relato da amiga Kátia Bond em sua experiência espiritual pelos caminhos e lugares místicos e sagrados de Santa Hildegarda de Bingen.
Por Kátia Bond
Para celebrar os meus trinta anos como missionária do grupo Missionários/as leigos de Maryknoll, eu fiz uma peregrinação para o convento de Santa Hildegarda, próximo à cidade de Bingen, na Alemanha. Eu fui abençoada por estar lá no mês de setembro, com dias ensolarados e um céu azul espetacular, um pouco antes da colheita das uvas. Tudo isso somado à vista do rio Reno.
Quando me perguntam o que mais me motivou para visitar a terra de Santa Hildegarda, posso responder de muitas formas. A primeira vez que eu ouvi falar nela foi em 2001, quando participei como ouvinte de um curso ministrado por Mary Ford-Grabowsky chamado Vozes Sagradas, na Universidade da Espiritualidade da Criação, em Oakand, Califórnia.
Santa Hildegarda chamava a si mesma de “A Trombeta de Deus” e é considerada por historiadores, a exemplo de Janina Ramires, como uma das mais importantes mulheres da Idade Média. Durante o curso, eu me perguntei, como uma católica estadunidense e descendente de alemães, por que eu nunca tinha ouvido falar dela.
Hildegarda era uma freira beneditina, mas também uma cientista pioneira, teóloga, filósofa, musicista, poeta e uma médica que tratava os seus pacientes com métodos naturais. Como poeta, ela escreveu vários poemas que refletem sua relação com a espiritualidade e a natureza, como pode ser percebido nos seus textos.
Poema - Da Antífona para o Espírito Santo
Poema - Antífona para a divina sabedoria Sophia!
Hildegarda foi a mentora de muitas pessoas, incluindo reis, papas e outros religiosos e religiosas. O seu ativismo pode ser comprovado em mais de 390 cartas que revelam a sua sabedoria espiritual e política, além de outras matérias. Porém, foi a sua música que me encantou. Por muitos anos eu ensinei Ioga e liderei círculos de mulheres nas prisões femininas de São Paulo. Uma das minhas companheiras de trabalho pastoral tocava a sua opera Ordo Virtutum em nossa rota pela densa malha urbana, no trajeto para a prisão quando íamos visitar as mulheres encarceradas.
Ford-Grabowsky começou o seu capítulo dedicado a Hildegarda em seu livro Sagradas Vozes: sabedoria essencial das mulheres através das eras, com esta sentença: “Esta grande mulher, uma mística genial e iluminada com sabedoria, uma profeta inflamada com fé, uma grande alma soprando luz divina, ela sozinha abriu o caminho para uma espiritualidade feminista cristã que tinha sido embasada durante um século de dominação masculina”. Assim, Hildegarda tem sido uma inspiração para meu trabalho com mulheres nos últimos trinta anos no Brasil.
Em 2012, ela foi finalmente canonizada e declarada como uma Doutora da Igreja pelo Papa Bento XVI. Algumas pessoas questionaram por que demorou 800 anos para concluir o processo de sua canonização, que começou logo após a sua morte, em 1179. A resposta é muito trivial para acreditar: os papeis do processo se perderem em 1253 no caminho para Roma e não havia copias. Alguns autores especulam como esta confusão pode ter se tornado uma benção porque, nos anos recentes, a pressão para a sua canonização tem despertado o interesse por Hildegarda. Suas pregações, que enfatizam uma espiritualidade centrada na criação, são perfeitas para os nossos tempos.
Nos lugares místicos de Hildegarda
Cada lugar histórico que eu visitei ao longo do rio Reno tinha jardins de ervas com plantas medicinais, especialmente lavanda a alecrim. Um dos meus lugares favoritos foi o jardim em sua homenagem no Museu am Strom, em Bingen. No centro do jardim, há uma fonte no formato do rio Reno rodeada por plantas medicinais. Quando eu sentei perto da fonte, o som das águas guiou a minha meditação enquanto eu olhava para o rio Reno e o convento onde Hildegarda viveu em um morro no lado oposto onde eu estava.
Hildegarda criou o termo “Veriditas”, o poder do verdejar como traduzido por Mathew Fox em seu livro Iluminations of Hildegard of Bingen (Iluminações de Hildegarda de Bingen). “Para Hildegarda, o Espírito Santo é o poder do verdejar em movimento, fazendo com que todas as coisas cresçam, se expandam e celebrem. Para ela, a salvação ou a cura, é o retorno para o poder de verdejar e umedecer”, comenta Fox.
De todas as imagens, a que mais me inspirou foi a Árvore Cósmica.
Hildegarda nos pede para prestar atenção no ritmo da natureza, enraizados/as na crença de que ela tem a chave para o nosso bem-estar físico e para uma vida espiritual profunda. Ela nos convida a nos tornarmos companheiros da natureza. “A humanidade é co-criadora, então nós devemos cultivar a terra e deste modo torná-la celestial.”
Nos EcoRetiros que eu facilito no Nordeste do Brasil com o meu companheiro e também missionário leigo de Maryknoll, Flávio José Rocha, eu percebo que ajudar as pessoas a se conectarem com a natureza é também um caminho para se reconectar consigo mesmo/a, com outras pessoas e com o universo. Eu vejo estes espaços de partilha como uma pequena contribuição para o Jardim do Viriditas de Santa Hildegarda.
Kathleen Bond é Missionária Leiga de Maryknoll. Vive há mais de 20 anos em Joao Pessoa, Paraiba, Brasil. É uma das colaboradoras da AFYA Centro Holístico da Mulher e vem realizando vários trabalhos na dimensão da espiritualidade e da saúde holística, enfocando suas atividades no poder da cura através do toque e do movimento consciente. Atualmente ministra aulas de Yoga Sentada na Cadeira na AFYA Centro Holístico e na Secretaria Pastoral do Imigrante na Paraíba. Facilita EcoRetiros com ênfaze nos Chákras e na conexão do ser humano com a mãe terra.
Fotos: fonte de Kathleen (Kátia) Bond
Tradução do texto: Flávio Rocha