Andréa Zemp Nascimento é brasileira, casada e mãe de Tainá e de Cauan.
Cresceu na cidade de Barra Bonita, interior de Sao Paulo, e tem raízes em João Pessoa/Paraíba.
É formada em arquitetura e mestre pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), com mestrado em Mediação de Arte e Cultura pela Escola Superior de Artes de Zurique ZHdK.
Andréa é autora do livro “A criança e o arquiteto: quem aprende com quem?” (Annablume/FAPESP, 2015).
Em 2009 migrou para a Suíça e reside no Cantāo de Zurique e como tantas outras imigrantes que vivem na Europa, enfrentou desafios para se integrar na sociedade, apesar de já ter começado a aprender a língua alemã antes de sua chegada na Suíça. Segundo ela, a maternidade a ajudou a se aproximar de outras mulheres que também são mães, suíças e de diferentes nacionalidades, especialmente as brasileiras. Assim, foi conquistando seu espaço enquanto mulher imigrante e enquanto profissional da cultura nestas terras distantes.
Andréa passou por diferentes experiências de trabalho na Suíça (na arquitetura, no meio acadêmico e em projetos artísticos com crianças). Atualmente seu foco principal é a literatura: trabalha na Biblioteca Intercultural Pestalozzi Bibliothek Zürich – Hardau, como curadora do acervo em português para crianças e adultos. Andréa atua também como contadora de histórias para crianças na primeira infância e é uma das moderadoras do clube de leitura Leia Mulheres Zurique-Aargau junto com Luci Strijbis. A cada dois meses elas se reúnem com várias mulheres falantes de português, para compartilhar suas percepções a respeito de diversas obras literárias produzidas por mulheres.
Andréa também modera o programa de rádio “1,2,3 Outra vez”, que é voltado para crianças e famílias transmitido pela Rádio LoRa de Zurique (97.5 MHz). A ideia do programa é conectar crianças brasileiras habitando em diferentes regiões do mundo, valorizando a cultura e ao mesmo tempo criando pontes com outras experiências culturais pelo mundo. Além da transmissão via rádio, o programa fica disponivel na internet na plataforma Mixcloud.
A arte faz parte de sua vida cotidiana. Além de gostar de cantar, ela pinta retratos de “mulheres incríveis” (as autoras que tem sido escolhidas para as leituras do “Leia Mulheres”) e produz seus próprios cadernos (manualmente) com pinturas de aquarelas. É neles que deposita suas inspirações poéticas.
Além do seu lado artistico, Andréa encontrou-se com seu devir-poeta em tempos de pandemia: entende o fazer poético como processo de cura – singular e coletiva – como ela mesma afirmou em entrevista ao Terra Literária:
“O que vem da alma cura a gente e toca o outro”.
O que ninguém vê* (para Jeferson Tenório)
Encantar pelos contos
recompor a história
evocar nos corpos o canto
voz de luta, reinício.
Breve instante: o professor
tateia a essência de seu ofício.
Despede-se dos estudantes
na alma, dor amansa
ainda é possível sonhar
com a solidão ele dança…
Todavia em seu caminho
polícia: agudo espinho
livro sobre o peito voa
grito insubmisso ecoa…
Seu corpo tomba, peso da pele
meu corpo ao lado despenca
sinto o desencanto – a D O R
papel branco, rubro pavor.
Eu me levanto, canto
busco na travessia motivos
sobrevivo aos disparos
que rasgam o corpo coletivo.
Para o professor
bastou a C O R.
Aberta ferida
revela no avesso
sua estrada
I N T E R R O M P I D A.
*Poema recém-publicado na antologia poética do Festival de Poesia de Lisboa 2022: “Corpos de amor e luta” (Org.) ROSA, Jannini; INNECCO, João; MORAIS, Carla De Sá. Cabo Frio-RJ: Helvetia Edições, 2022.
É chegado o momento
Romper com o existir violento
Palavra da vez:
AGRUPAMENTO
Neo-existência
Consciência
Outro jeito de estar no mundo
Verdadeiramente junto
A linha do tempo se desfaz
Somos muitos fios agora
Cabe a nós tecer nova era
Afinal, “a costura é senhora”.
Neste poema não intitulado, a escritora traça um diálogo poético com Angelo Mundy.˜
Sinto-me
pairando
Num universo
sem estrelas
(Voltarei a vê-las?)
Um céu
cheio de cortes
Anuncia
tantas mortes
(Teremos sorte?)
É fogo
Fumaça
Arruaça
ameaça
(Quem me abraça?)
Mas…
A cada luz
Que não vejo
Escuto um fio
Um desejo
Sente também arrepio?
É real(ejo).
O canto que resiste
ao tempo instável
o canto que anuncia
o improvável:
a explosão desesperada
da terra em flor
a morte-origem
do mais puro amor.