Filha das terras gaúchas, Liane Schneider nasceu num dia 4 de junho, numa cidadezinha no interior do estado chamada Lajeado. Numa região marcada pela colonização europeia, sua infância foi atravessada pela cultura de uma comunidade descendente de alemães que vieram para o Brasil, aonde chegavam poucas novidades de outras regiões do país.
“Eu cresci e vivi minha adolescência nesta pequena cidade, no interior do Rio Grande do Sul. Não tinha cursos de idiomas e eu nunca tinha ido à capital. Minha família se deslocava muito pouco, nessa época”, revelou em nossa conversa para o podcast.
Ela se reconhece como uma pessoa de travessias. Entre a adolescência e a juventude, deixou a cidade natal rumo à capital para prestar o vestibular para a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Foi neste rito de passagem que pisou em Porto Alegre pela primeira vez, entrou para a academia – que atravessaria sua vida de forma que ela ainda não imaginava – e iniciou sua jornada de deslocamentos e desdobramentos.
A entrada na universidade foi um marco, sendo a primeira da família a ocupar aquele espaço. Depois de seu primeiro deslocamento, vieram muitos outros ao longo de sua trajetória. “Arrumei a maleta na primeira mudança, peguei gosto… era da minha natureza. Minha avó vivia circulando dentro do estado e das pequenas cidades e eu também gostava, mas ainda não tinha feito tanto”. Risos.
Encontro com o feminismo
Na graduação Liane teve acesso às teóricas e ao movimento feminista, visto que, na sua infância e adolescência, as mulheres se articulavam coletivamente apenas em torno dos chamados “clubes de mães”. “A partir do contato com várias professoras que regressavam dos Estados Unidos, eu comecei a me abrir para essas teorias. Eu comecei a ler mulheres com outros olhos.”
Viveu cerca de 16 anos na capital gaúcha, engajou-se no coral da universidade, viajando de um canto a outro para as apresentações. Depois que terminou o mestrado em Literatura ainda na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, trabalhou em empresas, fez de tudo um pouco, mas as experiências não deram muito certo. E resolveu outra vez colocar o pé na estrada. Voltou para academia, foi fazer o doutorado em Florianópolis, onde permaneceu por seis anos. Depois passou num concurso para ser professora do Departamento de Letras e Literatura da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), e suas andanças a levaram para o Nordeste, abrindo um novo horizonte onde acabou criando raízes, mas se permitindo sempre que podia transitar, conhecer pessoas e acumular experiências a partir de seus deslocamentos no Brasil e no mundo.
Como nasce uma escritora – ou será que ela sempre esteve por perto?
E foi entre a universidade e o mergulho permanente na literatura e na crítica literária que Liane Schneider se descobriu escritora de ficção, identidade que até pouco tempo atrás teve dificuldade de assumir, sendo algo totalmente novo para ela:
“Quando você [Malu] me apresenta como escritora, eu ainda não me vejo tão assim, apesar de ter escrito dois livros [de ficção]. Eu ainda me vejo como uma professora, mas que escreve, sim, e tenho que começar assumir essa outra identidade”, ela confessa de forma modesta.
Foi durante momentos de isolamento, a exemplo da pandemia de Covid-19, que Liane resolveu organizar suas escritas de ficção, tendo publicado recentemente o romance Pelos quatro cantos, pela Editora UFPB, e a coletânea de contos O pó da estrada, editado pela Folheando a ser lançado em breve.
Quer saber mais sobre essa vida cheia de aventuras na vida real e na ficção? Confira nosso podcast de maio com Liane Schneider.
Quem é Liane Schneider?
Formada em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde obteve seu mestrado em Literatura pela mesma universidade (1995) e Doutorado em Letras (Inglês e Literaturas Correspondentes) pela Universidade Federal de Santa Catarina (2001).
Tem uma vasta produção na área de literatura, teorias, críticas literárias e decolonialidade. Publica artigos e ensaios, entre eles se destacam: “Memória e resistência entrelaçadas: Crazy Brave, de Joy Harjo” (2019); “Vozes de escritoras indígenas das Américas: resistência em forma de verso no Canadá e Brasil” (2017); “Quatro olhos sobre Americanah: a partir de onde o texto de Adichie fala e para quem?” (2016); “Um corpo que não cai: a cidade e o sujeito migrante em suspensão (2015).
Os livros de Liane estão disponíveis na Livraria do Luís, localizada no Centro, João Pessoa, Paraíba.