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Cidinha Oliveira – Poesias do mundo

Cidinha Oliveira, filha de Neide Oliveira e filha também de Iansã, sergipana-sertaneja de Poço Verde, mãe solo de Eduarda, sapatona, feminista antirracista. No podcast, Cidinha fala de suas andanças, experiências, vivências pessoais e sobre sua escrita-poética. Ouvir/ler os poemas de Cidinha é um convite para nos reencontrarmos, em algum lugar, com nossas histórias e subjetividades.

Suas poesias são fortemente marcadas pela regionalidade. Há um cenário que se transforma em palavras. E ela faz questão de reafirmar este lugar poético, mas sua poesia extrapola as fronteiras regionais.

Minha poesia vai a onde meu pé caminha

Não sou poeta de prédio
Muito menos de escrivaninha
Meu sentimento percorre
Tudo que meu pé caminha
Esse mundo de realidade
E os sonhos dessa cabecinha

As palavras saem juntas
Com o que boto no fogão
Tem dias que é a galinha
Em outros aquele feijão
Sobe um cheiro tão gostoso
Que me anima o coração

Sábado é dia de feira
Lembrança da minha cidade
Um movimento que gosto
É viver em comunidade
Chega às verduras em casa
É grande a felicidade

Acredite se você quiser
Mas outro momento poesia
Que sinto a mente fluir
É quando a água da pia
Escorre nas minhas mãos
suadas
É um processo de terapia

Não quero romantizar
Esse trabalho que é dureza
É o meu jeito de criar
E você pode ter certeza
Quem gosta da minha palavra
Sabe de onde vem a grandeza

O que seria da escrita
se não fosse a emoção
Choro com cheiro de alho
Tomate, cebola, pimentão
Regando tudo com coentro
Sou poeta do sertão.

As poesias de Cidinha, confrontam os sistemas de opressões às mulheres na sociedade. A poeta fala abertamente sobre  orientação sexual, feminismo, racismo, desigualdades sociais e como estes aspectos se relacionam com aspectos da vida cotidiana, das identidades e da condição do ser mulher. É  também uma poesia que toca nossas subjetividades, coraçōes e emoções.

Potência

Corra atrás do que lhe emociona
Fique colada onde tem amor
Nada de romantismo surreal
Liberdade é sentir calor
Se ajunte com gente boa
Que lhe puxe na hora da dor

Não consigo ver outro caminho
A não ser o da profundidade
São tantas lembranças na vida
Cortando o campo e a cidade
Tanto abraço gostoso
Tanto sorriso de verdade

Se apegue no que há em nós
As mulheres são a resistência
Não tenho duvida, não tenha!
Preste atenção na nossa existência
Por mais dolorosa que seja
Seguir com outra é sobrevivência

Amo amar as mulheres
É o meu maior sentimento
Não sei ser rasa, nem atoa
Já vim assim do nascimento
Mulher que encontra em outras
A emenda do fortalecimento

É maravilhosa!!!
Bote fé na nossa força junta
Se sacode e vai em frente
Vire o mundo de cabeça pra baixo
Acredite, viva, se movimente
A ideia aqui é entre nós
E entre nós, o amor é mais potente.

 

A voz poética de Cidinha se volta para a dimensão da autoafirmação do ser mulher em sua diversidade, do autocuidado e do fazer coletivo, na relação com a outra/outro. Neste contexto de pandemia e de muitas adversidades – mortes, ameaças e perdas de direitos, fragilidades da nossa condição humana -, sua poesia nos impulsiona e fortalece nossas lutas (individuais e coletivas).

Esperançar!

Fiquem juntas!
Nenhuma de nós
Nenhuma
Vai Aguentar Sozinha
Fiquem juntas!
É preciso
Procurar
As outras
É preciso ser procurada
Pelas outras
Fiquem juntas!
Uma chora
A outra enxuga
Outra cai
A uma levanta
Fiquem juntas!
Nenhuma de nós Nenhuma
Vai aguentar sozinha
Precisamos mais do que nunca
Ter sempre uma mulher por perto.

Além de poeta, Cidinha Oliveira é uma educadora popular, assim como muitas mulheres, com uma formação acadêmica e extensas experiências de trabalho, ela luta para manter sua sobrevivência. Em contexto de pandemia e de profundas desigualdades sociais, o desemprego é uma realidade que tem levado mulheres e homens a buscarem outras formas de ganhar a vida, muitos se agarrando a um trabalho precarizado.

Muitas mulheres e homens  tem feito muitos  “malabarismos”  para manter sua sustentabilidade financeira e de suas famílias. E viver apenas da arte e da escrita é ainda um grande desafio para muitas escritoras brasileiras como Cidinha.

Diploma

Tô desempregada
Há um ano penso
Que currículo serve?
Qual emprego tento
Será que o diploma
Vai me dá o sustento?
Já manobrei tanto a vida

 

Minha história é assim
Sem tempo, espremida
Então vamo lá
Vou dizer o que sei fazer
Você me diz o que querer
Vendedora de doce
De roupa
De lingerie
De Avon
De boticário
De natura
De cerveja
De comida
Cuidadora de criança
Domestica do lar
Educadora social
Comunicadora popular
Assistente técnica
Poeta

Me disseram que era o diploma que ia salvar
Mas acreditem
Minha carteira como assistente social
Até agora ninguém quis assinar
Agora a ordem é correr atrás
Nem sei pode onde começar
Por que tudo que já fiz
Não tem como comprovar
E o diploma ficou pouco
Na hora de contratar

Quem quiser colaborar com o trabalho da escrita de Cidinha Oliveira visite o Instagram dela.

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