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Acarajow: música preta, resistência e contação de histórias nas pistas de dança

Na entrevista com Jô Pontes para o podcast do Terra Literaria, Cristina Lima e Malu Oliveira . Na entrevista com Jô Pontes, ou Acarajow,  para o podcast do Terra Literaria, Cristina Lima e Malu Oliveira conversam com a jornalista e produtora cultural, sobre música preta, especialmente, a partir de sua atuação como DJ, da relação da arte e da música na luta contra o racismo, com as bandeiras das lutas das mulheres negras e /feminismo e com a transformação social.

Ela fala dos desafios de ser produtora cultural para as pessoas pretas no contexto do Nordeste, como é ser artista de periferia que se autoproduzindo, sobretudo numa perspectiva afrofuturista. Destaca alguns artistas brasileiros e de outros países, com que vem atuando através da música, da estética visual, das artes plásticas, da literatura nesta perspectiva.

Jô Pontes, a Acarajow, se apresenta ao mundo, é uma mulher negra, pessoense, cresceu na periferia da Região metropolitana de João Pessoa, PB, embalada por uma família musical que aprecia os diversos gêneros musicais no cotidiano. 

Em 2016, concluiu o curso de jornalismo na UFPB e, nesse período, integrou o Grupo Coco das Manas. A partir daí, iniciou sua pesquisa em música negra, acreditando nela enquanto promotora de mudança de realidade. Integrou a Rádio 6969 Éféemm e o Coletivo NonStop.

Além de trabalhar na Ong Cunhã Coletivo Feminista e de ser uma militante no movimento feminista e das mulheres negras, em João Pessoa, ela atua como produtora cultural e vem se destacando como DJ na cena cultural paraibana, levando a música preta, seus diferentes ritmos e épocas para as baladas, festas. “A gente existe e quer aparecer na cena”, revela a DJ Jô Pontes.

A música preta como arte de transformação.

Jô Pontes, concebe a música preta como expressão política: “levar a música preta para a pista é contribuir para a transformação social… Eu acredito que a música preta, como instrumento de resistência, é uma forma de valorizar o que é nosso, que vem de nossa história, de nossa cultura”, revela.

Ocupar o espaço artístico como DJ tem sido para Acarajow um trabalho prazeroso. “Ser DJ é colocar tempero na pista… é contar uma história, criar uma narrativa, é o que você levaria para uma festa”. Mas é também um trabalho desafiador para as mulheres que ocupam este lugar, é uma profissão ainda desrespeitada,  desvalorizada e ainda invisibilizada.  “O cachê dos finais de semana é baixo e não dá para pagar as contas”, conta.

Para atuar como DJ no universo da discotecagem precisa basicamente ter domínio de um software e de um hardware. Se trabalha a partir desse controle, mas antes tem o processo de pesquisa, curadoria, escolher as músicas, combinações e transições que contem uma história na pista de dança. É comum construir um set que mantenha uma harmonia entre BPMs mas se pode sair de um BPM maus alto pra um mais baixo, por exemplo. Podendo usar um efeito, mas não existe regra. Para Jô, é muito mais importante acreditar no que se sente pra construir um Set.

Levar a música preta para as baladas é um trabalho que exige tempo de preparação, de pesquisa, ensaio e construção no processo de seleção das músicas. Em sua pesquisa musical, ela mescla diversos ritmos que tiveram origem nos guetos e periferias do mundo, trazendo desde o afrobeat, samba, reggae, Miami bass, funk carioca e ritmos nordestinos, a exemplo do brega funk e batidão, este último genuíno da cidade de João Pessoa. Com esta riqueza de fontes musicais, constrói uma narrativa tendo a música negra como central, acreditando na difusão de diversos ritmos e enaltecendo a história de artistas pretes, numa perspectiva afrofuturista. 

A produção visual de DJ também é importante para a performance artística, como podemos observar na foto.  

O trabalho como DJ chega a todas as gerações, constrói um diálogo intergeracional, buscando interagir com diferentes ritmos. Nos último anos, Acarajow tem se apresentado em diversas casas de João Pessoa, também teve a alegria e oportunidade de tocar nos quilombos de Caiana dos Crioulos (Alagora Grande) e Ipiranga (Conde), ambos, na Paraíba, além de participar de momentos culturais de encontros dos movimentos de mulheres e movimento negro. Acarajow é esta mulher negra literalmente em festa, afirmando sua identidade de mulher periférica através da música, unindo pessoas, trocando ideias e saberes, na energia do mel e do dendê.

 A artista Acarajow pode ser contactada no: Instagram:  WhatsApp/Signal: (83) 98712-5535 E-mail:

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