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a velhice aos olhos de Joana

A velhice aos olhos de Joana

O divertimento são os olhos. Era tanto do filho! Eu trabalhava para cuidar de dez filhos. Trabalhava de enxada, criava peru, plantava algodão.

Fiquei sabendo do ocorrido. Ele era um homem muito duro. Jesus lhe perdoe a culpa. A família tinha muito medo dele. Ele não era um homem fácil, não! Coitadinha da minha irmã. Ai, meu deus! Deus o levou!
Coitadinha de minha irmã. O que será dela agora? Coitadinha de minha irmã.
Só Deus e os filhos por ela. Minha irmã era uma mulher bonita. Casou-se moça. Sofreu muito!

Compadre não era um homem fácil…
Era trabalhador. De tudo na vida, foi um pouco: agricultor, pedreiro, vigilante, construtor de casa. O nome só sabia assinar. Não tinha leitura, mas sabia ler o mundo. Na matemática, foi professor, engenheiro, arquiteto.
Homem de sapiência. Passaram-se os anos. Veio a doença do mundo. A memória foi ficando curta. As palavras se tornaram refrão. Vivia de cabeça baixa, a fome ficou pouca, as pernas se arrastavam. Com tudo se emocionava. Nas noites sem fim, perambulava do quarto para a sala, da sala pra cozinha, um chá de camomila com biscoitos de creme craque. Na parede, o relógio anunciava o amanhecer. O tempo, o desgosto, as mazelas do corpo, o vírus, a vida, a partida, o cortejo se fizeram.

A asa branca bateu asas
A porteira fechou
À casa, o filho voltou.

É minha neta É a vida, isso é vida de velho!
Vamos ver quem tem carinho por cada velho. Trabalhei tanto, só quem sabe é quem viu. Fiquei viúva. Chorei, gritei muito. Minha dor era grande demais! Meu marido era muito bom. Eu criei os filhos com carinho e respeito.

Hoje eu vivo na casa dos outros. Quanto mais o tempo se passa, mais aumentam as lágrimas destes olhos. Eu chorei tanto que não se acaba nunca. No sítio me criei, criei meus filhos. Lá sim, eu era feliz, ai, ai, ai!
Eu fazia umas farinhadas que dava a todo mundo. Na roça tinha fartura! Trabalhei com minhas pernas alejadas, só via quem queria ver.Meus filhos não passavam fome, não! Até filha dos outros eu criei. Dei de comida, amor e roupa não lhe faltou. É uma ingrata, mulher tornou-se menina. Nem se quer vem me ver. Tem nada, não. Velha há de um dia ficar.

Quero voltar pro sítio! Lá é minha casa, mas ninguém deixa. Não é que reclamo, não! Aqui me dão de comida, não me falta nada.
Minhas filhas moram bem ali. Dizem que não têm tempo pra me ver. E vocês? Já comeram? Tem comida aqui.
Durmam aqui! Já está escurecendo. Tem muita rede. Vocês dormem em rede?  Minhas netas, não demorem, não, pra me ver. Quando vocês vierem da próxima vez, vamos todos pro sítio.  Vou mandar matar uma galinha e colher feijão verde.
Não demorem não pra voltar, já estou ficando velha.
A vista está ficando curta.
No mês de Santo Antônio vou fazer 98 anos, não é verdade?

 

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